Subscribe Twitter Facebook

domingo, 13 de dezembro de 2009

Meus anos 60

Continuando a série de textos sobre a década, eu, Ciro Hamen, posto um texto sobre as minhas impressões da música nesse período.


Gosto de afirmar que vivo em uma época boa e criativa para a música. Acho uma babaquice reclamar que agora não se faz nada de bom e que som bom era feito antigamente, nos anos 60, sei lá. Se você é refém das rádios da vida, provavelmente tudo é ruim mesmo, mas se você sabe procurar, não.

Só em 2009 há, pelo menos, uma meia dúzia de discos que considero verdadeiros clássicos. Não apenas porque me acompanharam em momentos bons e ruins do ano, mas porque sei que estarão lá para mim, para sempre. Merriweather Post Pavillion, do Animal Collective, é um deles. Talvez o maior deles. Um disco pós-recessão que afirma estar cagando e andando para as “material things”. Que afirma, em suas letras, que a mulher dos sonhos é aquela que está em casa. E, como afirmaram, a beleza da vida está em montar esta casa. Cantam isso da maneira mais emocionante e excitante possível. Um disco maduro para fechar a década. A década das minhas descobertas, dos meus vinte e poucos anos. Os meus anos 60.

Muito aconteceu de 2000 para cá. O Strokes estourou e pavimentou o caminho das bandas que viriam a ser a cara desse período, White Stripes, Interpol, Yeah Yeah Yeahs, Franz Ferdinand. O Outkast lançou músicas geniais que ultrapassaram a barreira do que é rap/rock/pop. O Arcade Fire veio para o Brasil com o seu show maluco, fazendo a gente acreditar que estar no palco é a coisa mais legal do mundo. O Jay-Z fez o maior disco de gangsta rap da história. Os artistas “para tocar no seu quarto”, como Cat Power e Belle & Sebastian - desde a década passada -, se multiplicaram. Bon Iver, Bright Eyes, Fleet Foxes, Beirut, Grizzly Bear ganharam projeção por conta disso. O indie virou pop e tocou em comerciais de cadeias de fast-food e dominou as trilhas sonoras de filmes como Juno, Garden State e Apenas Uma Vez. O rap mostrou que tem muito mais força do que o conservador rock, com artistas como The Streets, Dizee Rascal, Lil Wayne, Ghostface Killah e, claro, Kanye West.

E no Brasil? Também teve muita coisa boa se você não ficou grudado nas rádios emo-MTV da vida. Talvez a banda que tenha conseguido mais destaque fazendo algo fora dos “padrões” foi o Los Hermanos. Ao longo desses anos lançaram três ótimos discos que provaram que um artista pode ter liberdade de criação mesmo que preso aos esquemas maléficos das gravadoras. Racionais MC´s também lançaram um grande disco no começo da década, mostrando a força do rap nacional.

Em menores proporções, outros artistas também fizeram a diferença. Black Alien cantou a Babylon by Gus e BNegão criou a “Dança do Patinho”. Lulina fez Cristalina, um dos melhores desses últimos dez anos, e virou uma voz única, inigualável, do indie nacional. Com um delicioso sotaque pernambucano, ela afirma “Oh Margarida, a vida é longa e outros vão aparecer. Olha esse aqui, tão carinhoso, legal demais, só pode ser gay”. Um indie pop de letras pouco sisudas como nunca antes se fez neste país. Ao melhor estilo Velvet Underground dispara: “- Vamos ser amigos. – Não gosto de você. – Melhor dar um tempo. – Vaisifudê. Uma pena que essa noite acabou... E você não entendeu”.

Portanto, com tanta coisa bacana saindo hoje, é uma idiotice e coisa de velho conservador ranheta ficar falando que não há nada de bom sendo feita agora. Se for depender da criatividade de artistas como os citados acima, eu mal posso esperar pela década de 10!

Ciro Hamen é jornalista santista, um dos idealizadores da mixtape e editor do blog http://www.acentonegativo.com.br/

0 comentários:

Postar um comentário