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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Coletânea: Como fazer uma boa mixtape

Como DJ residente da mixtape sou encarregado de saber um pouco sobre música. A partir desta quarta-feira, todas as semanas na coluna Coletânea, vou compartilhar um pouco do que aprendi nos anos convivendo com música boa, música ruim, shows underground e o que mais eu achar interessante. Não vou falar pra vocês o que ouvir ou o que não ouvir – a internet já está cheia de sites e blogs deste gênero -, mas sim analisar tudo o que engloba esse mundo tão interessante – o da música.

Para começar achei que viria a calhar ensinar o leitor a fazer uma boa mixtape – nome da festa mensal na qual discoteco e deste blog também. E o que é uma mixtape? Mixtape são aquelas fitinhas que algumas (poucas) pessoas têm o costume de gravar para os amigos, para alguma festa, para alguma viagem, para a namorada, para a pretendente ou para algum membro da família, fazendo uma miscelânea com o que ela achar de melhor na sua discoteca. Com o tempo, as mixtapes viraram mixCDs – talvez pela maior facilidade e rapidez de passar mp3 para um CD -, mas engana-se quem pensa que as fitas cassete estão em desuso. Em dezembro de 2009, a banda nova-iorquina Oneida lançou uma edição limitada de Fine European Food and Wine apenas em fita cassete. Tudo bem que era material antigo, com gravações ao vivo e improvisos impróprios para um “lançamento sério”. Mas é louvável a atitude da banda em lançar algo exclusivamente neste formato. Bitte Orca, do Dirty Projectors, foi lançado em cassete, assim como dois discos do Deerhunter. Ano passado, Thurston Moore, do Sonic Youth, disse que só ouvia cassete.

A fitinha tem o seu charme. No CD, por exemplo, a ordem das músicas perdeu um pouco o sentido, uma vez que é muito mais fácil você pular de faixa. Na fita você tinha que adiantar até sabe-se lá onde sem saber onde a música ia parar exatamente, caso não gostasse de determinada canção. E aí chegamos na primeira – e mais importante – dica de como criar uma boa mixtape: as três primeiras músicas. Na confecção da mixtape perfeita, as três primeiras músicas são essenciais. Devem mostrar a que você veio e qual é a sua intenção com aquela coletânea.

A única faixa que deve ter importância igual às três primeiras é a última. Essa é a que vai fechar tudo, portanto também tem que ser memorável. Isso não significa que todas as outras não são importantes. Não. Todas as faixas devem ser importantes – para você primeiramente – para que o ouvinte também goste do que vai escutar. Tente criar várias ordens diferentes e veja qual seqüência fica melhor.

Você também tem que saber para quem você está gravando aquilo. Por exemplo, você não vai colocar uma música do Necro em um mix para a sua namorada ou para a garota que você está afim. Por mais que ela curta o “death rap” do americano, uma canção que fala sobre o cara estuprando a mãe, matando o pai e depois injetando heroína pelos olhos não cabe em uma coletânea “romântica”. É bom manter a seleção eclética, mas alguns cuidados deste tipo devem ser tomados. Uma artezinha, tipo um encarte, também ajuda. Em CD ou fita cassete, a intenção é a mesma: fazer um presente bacana para aqueles que você gosta.

Ciro Hamen é um dos organizadores e DJs da mixtape e editor do blog Acento Negativo.

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